As duas faces

Um dia eu tive um amigo. Ele era especial para mim. Nada que eu fizesse, eu faria sem ele saber. Tudo nós compartilhávamos. Datas importantes e mesmo os dias sem nenhuma importância mudavam o sentido, pois nós dois estávamos juntos.

Eu conheci o amor de uma menina e compartilhei com ele tudo o que eu sentia. Era um amor muito louco e pouco correspondido. Eu sofri e conheci a dor. Fui até o inferno, voltei e novamente compartilhei com ele minha dor. Eu sentia como se essa amizade fosse superior a qualquer coisa. Superior ao amor por essa linda menina que conheci e senti a dor que veio logo depois.

Mas eu estava enganado, pois conheci a verdadeira dor, que não é a de um amor quebrado, e sim a de uma amizade despedaçada. Para mim, amigo, o verdadeiro amigo, é para ser guardado dentro do peito. Esse foi o meu erro, pois ele estava lá dentro e me feriu quando arrebentou meu peito para sair sem avisar. Sangrou e vai sangrar para sempre, na lembrança de um gesto de amizade que nunca mais acontecerá. Um gesto sem significado para ele ou para ela. Um beijo sem significado para o amor por essa linda menina ou para a amizade que eu tinha, mas que teve muito significado para mim.

Foram segundos que destruíram anos, foram ventos que fizeram furacões, foram gotas que fizeram o copo d'água transbordar e foi uma traição que fez uma amizade se acabar, sem pensar nas consequências. Eu sofri a verdadeira dor. Novamente fui ao inferno. É como se te rasgassem de dentro para fora sem motivo algum, como se a sua presença te incomodasse, ficar só com sigo mesmo fosse o fim, como se a luz faltasse e a sede não tivesse fim. É quando o branco se transforma em negro, a flor em espinho, o perfume em veneno. O leão mostra as garras e o amor e a amizade se transformam em magoas. E eu deixo de viver...

Jorge Lobo