quinta-feira, 12 de junho de 2008

O jovem lobo branco



Um lobo liberta-se da matilha. Olha em volta, repara no corvo que o sobrevoa, volta-se para trás e uiva em sinal de respeito e agradecimento. Volta-se e afasta-se do seu território enquanto segue o corvo pelas florestas. Atravessa ribeiros, riachos, nada é um obstáculo para a nobreza e ferocidade do jovem lobo que segue pelos caminhos obscuros deixando-se guiar pelo corvo. A situação exige-lhe rapidez, o instinto sugere-lhe que conserve forças para ainda poder lutar quando atingir o seu destino. A folhagem rasteira lacera-lhe as patas. O jovem lobo branco continua com o olhar no horizonte e no seu guia. Não existe dor, não repara que já sangra, simplesmente continua obstáculo após obstáculo em direção ao seu destino. Numa demanda por amor, que o jovem lobo sabe que lhe custará a vida. Duas noites e um dia passaram. O jovem lobo pára. Observa atentamente o nascer do dia. Sente que o momento está próximo. A viagem tem de continuar, estes momentos de paz são entesourados, possivelmente os únicos. O instinto aperta o coração do jovem lobo, que se faz novamente ao caminho. Não sente as feridas, não sente dor, apenas reconhece que algures no horizonte o seu destino chama-o. A velocidade aumenta, os últimos momentos parecem demorar eternamente. Fumo no horizonte, o guia sobrevoa uma pequena area... tudo parece mais nitido, ouvem-se crianças... O instinto aperta novamente, o jovem lobo passa por um camponês que de imediato abandona o labor para dar o alerta, tudo passa despercebido ao jovem lobo que salta uma cerca, atravessa o centro da aldeia. Chegou a tempo, o sangue escorre-lhe pela patas, sente uma energia que lhe dá força, sabe que chegou o momento porque fez a viagem. O riso de uma criança desperta-lhe a atenção, vira-se e carrega violentamente na direcção da criança. Quando atinge a distancia que lhe parece apropriada vê emergir das sombras sobre a criança um velho lobo negro, que se faz à presa com a certeza de uma refeição fácil. O jovem lobo salta projectando-se contra o velho lobo, e lutam. A matilha do velho lobo interfere e o jovem lobo branco vê-se rodeado por outros lobos. É o único capaz de defender aquela criança em tenra idade. A luta é-lhe imposta, a luta é feroz. O seu pelo branco é levado pelo vento, enquanto é mordido violentamente pelos seus adversários, não existe dor, a dor é suprida pelo cumprimento do dever. O primeiro adversário foge, certo de uma morte certa caso tivesse permanecido em combate. A matilha recua, o jovem lobo uiva a agradecer aos Deuses da floresta a força e coragem. Os aldeões chegam armados de foices e outros artefactos. A matilha invasiva foi repelida momentos antes. A jovem menina tenta aliviar a dor do jovem lobo. O sangue corre como um rio pelo seu pelo branco. Há muito que a vida começou a abandonar o jovem lobo, não geme, não uiva, limita-se a aceitar o seu fim serenamente. O corvo voa novamente por cima do lobo, um aldeão desfere o golpe letal no jovem lobo que olha uma ultima vez para os olhos da criança que reconhece aquele olhar. Ecos de uma vida passada inundam a cabeça da jovem menina que no derradeiro momento atravessa-se na frente dos aldeões, pega no corpo do jovem lobo aos braços e leva-o de novo para a floresta. Num local ermo longe da curiosidade de estranhos, um local secreto, a menina enterra o jovem lobo branco. Atravessou vales, florestas, montanhas durante os últimos dias para cumprir o seu destino. O ultimo reflexo de um amor passado ficará eternamente enterrado longe de todos, esperando o rê-encontro.
Autor desconhecido

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